Vladimir Maiakovski fez uma blusa amarela / De três metros de entardecer, em 1913. Eu tenho feito de camisas, calças, saias, bermudas, camisetas, vestidos e blusas doadas, de todas as cores, uma cartografia de afetos, desde 2016. Uma trouxa vermelha carrego sobre minha cabeça, um acervo ambulante, precioso de histórias de mulheres e homens, que falam por meio dessas indumentárias, o vivido com elas. Ao desamarrar os nós e abrir essa trouxa de afetos, as histórias escritas nas tags ganharam vidas nas vozes de quem as leu, ouviu e entrou na obra. As roupas carregam o passado e o presente, simultaneamente. Pele, suor, recordações, vestígios dos vivos e dos mortos. Desses fragmentos de memórias, histórias nos atravessaram, nos afetaram, algo que só quem viveu pode expressar a potência da experiência. O Outro em nós! Nesta performance, a Outridade é parte constitutiva da obra, é quem dá sentido e a faz existir. Um corpo coletivo com inúmeras camadas escritas ou o inefável que habita nas dobras.
A performance Trouxa de Afetos ou histórias cartografadas foi construída com roupas e histórias doadas, inacabadas. Uma experiência performática realizada também com a participação de outras pessoas ativando a obra, lendo as histórias dos Outros escritas nas tags e sendo afetadas por elas. Vestindo a obra, vestindo a vida, vivendo comigo essa experiência, foi um modo singular de estar no mundo com os Outros.
Esses objetos de memórias afetivas doados são transformados em obra de arte, abrindo outras janelas, outros modos de pensar e de se expressar, me fazendo escavar outras camadas de sentidos. A vida, o amor, a alegria, a saudade, o vazio, a luta e a morte, são temas atravessados em Trouxa de Afetos. Faço do encontro com os OUTROS um lugar de criação, porque a vida, como diz Cecília Meireles, a vida só é possível reinventada.
Os registros fotográficos das performances foram feitos por Willian Ferreira.